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Botox

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Meus 3 leitores sabem que eu não assisto mais novela. Só que, diferentemente do Xexéo, eu não assisto mesmo.
Simplesmente não dá, gente. Eu sou formada em Teatro, levei anos aperfeiçoando a máscara facial para que fosse a mais expressiva, a mais reveladora do sentimento humano. Aí eu ligo o aparelho e começo a ver uma sucessão de caras-botox que não alteram um músculo, quer a cena seja de alegria, dor, ciúme ou violência.
Todo o elenco ostenta um semblante plácido, como que recém-saído de um SPA cinco estrelas numa estação termal na Nova Zelândia. Pra disfarçar a pouca expressividade facial, agora deram pra exibir cada vez mais os corpos, de preferência em “ensaios paparazzo” sensuais com as jovens estrelas da dramaturgia (ou as velhas, repaginadas), ou em cenas de porrada entre mulheres, onde as caras duras ficam meio disfarçadas sob o mega-hair sacudido aos puxões.
Não vou perder meu precioso tempo assistindo cenas grotescas. Prefiro cuidar da vida, fazer minhas coisas.
Ir ao dermatologista, por exemplo. Tava precisando porque, depois de velha, voltei a ter espinhas como uma adolescente. O doutor até que foi ótimo, porque curou minhas espinhas em 1 mês. Achei que ele fosse se orgulhar desse resultado, mas agora, pensando bem, suponho que ele teria preferido que eu demorasse mais tempo, mais peelings e mais cremes pra ficar boa. Mas eu sou saudavelzinha, fazer o quê?
Daí que, quando eu estava naquela posição vulnerável, deitada na cadeira igual à de dentista, sob a lente de aumento e com aquela luz horrorosa revelando todas as minhas imperfeições, refletidas no espelhão gigante em frente, o doutor mandou essa:
– A gente podia tirar essas ruguinhas aqui em volta dos olhos…
(eu não me dei por achada)
– Ah, doutor, até que, pra uma balzaquiana, eu não tenho tantas rugas assim. As pessoas acham que eu tenho quase 10 anos menos. Eu não quero parecer que tenho 13 anos! Acabei de me livrar das espinhas…
(mas o momento “segura de sua beleza” dura pouco)
– Doutor, o senhor acha mesmo que eu estou enrugada?????
– Deixa eu ver. Enruga a testa…..com força!
(obedeço pensando em Lady Macbeth em seus delírios de horror)
(ele tenta, sem sucesso, franzir a própria testa ao me dar o diagnóstico)
– Ihhhhh….
(qual auto-estima resiste a isso??)
_ Um botox aí ia bem…
(mas aí ele falou a palavra errada para a pessoa errada. Eu mesma me surpreendo às vezes com as minhas reações)
– Doutor… (empurrando a lente para o lado e levantando da cadeira) se o senhor disser mais uma vez que eu pareço velha, eu saio por aquela porta e vou procurar um médico que diga que eu sou bonita. Eu vim aqui tratar espinhas, não velhice. Não me sinto nem um pouco velha. E injeção na testa, nem de graça!
O doutor esbugalhou os olhos e foi lá pra outra salinha, onde ficou uns bons minutos digitando na minha ficha, tlec-tlec-tlec. Espero que ele tenha posto um lembrete em letras vermelhas garrafais pra nunca mais tentar me detonar pra vender tratamentos. Terminamos muito amigavelmente a consulta e só na saída eu percebi que estava chamando o sujeito pelo nome errado o tempo todo. Ele não só não reclamou como, quando me desculpei, disse que eu podia chamá-lo como quisesse, que não tinha a MENOR importância, se despediu todo fofo e sorridente e ainda me deu amostrinhas grátis de uma máscara ótima de argila. Pianinho, me amando (ou fingindo que me ama, o que, na prática, é o que interessa).
As pessoas são mesmo muito estranhas.
A todas essas, preservei minha integridade motora e continuo 100% orgânica, não-transgênica e sem aditivos químicos. Sem neuro-toxinas botulínicas, próteses plásticas, cabelo alheio e outros adendos bizarros da cosmética contemporânea.
A quem se utiliza deles, meu respeito e admiração pela coragem e pela dedicação à causa narcísica.
Às que os dispensam, unamo-nos! Eu nos acho lindas do jeitinho que nós somos e com a idade que nós temos. Ainda deve ter gente que concorda comigo.

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